Prólogo
Luke
Ele se percebeu chorando.
Era a primeira vez, em cinco anos, que ele chorava, e parecia que as lágrimas queriam compensar sua ausência. Não paravam de escorrer, criando finas linhas molhadas nas bochechas do rapaz.
- Não chore... – a garota o abraçou ternamente. E ele pensou que Anita também faria aquilo. Por um instante, sentiu que a garota de 21 anos, que o abraçava de modo terno, era sua irmã de cinco anos. Por um instante, ele a viu, carbonizada, exalando aquele cheiro de carne queimada.
E então, Luke sentiu tudo começando a rodar.
Ouviu sua irmã chamando-o pelo nome, ouviu as paredes rindo, ouviu Allie gritar preocupada, e finalmente perdeu a consciência.
Anastasia
“Tempo suficiente para uma mudança extraordinária em minha vida. As perturbações da infância e adolescência já não significam mais nada, nunca imaginei que chegaria a esse ponto.”
Anastasia parou, a caneta tocando o papel suavemente.
Ela não sabia descrever como era a sensação que sentira, ao chegar naquele local. Havia sido preenchida com milhares de sentimentos paradoxais. Alguns ruins, alguns com vestígios de esperança... Parecia-lhe a primeira vez que não sabia descrever uma situação. Era incrivelmente frustrante.
Ela estava se perdendo naquele lugar.
Perdendo sua identidade, perdendo seu talento para a escrita. O Livingston parecia absorver-lhe, lenta e dolorosamente, até o momento em que Anastasia deixaria de existir.
E não restaria mais nada.
Allie
Agora estava tudo perdido. Restava a Allie apenas esperar, quando ela surgiria a sua frente, com os mesmos olhos odiosos de John – Pai? – expelindo fagulhas, enquanto ela avançava em direção ao que fora sua amiga. Sádica, sanguinária.
- Elsie, April? Luke? – ela sussurrou, sentindo um peso incrivelmente desconfortável, em seu âmago. Como uma pedra, entalada em seu peito. Tentou respirar, mas ouviu seus próprios soluços – Anastasia? Alguém?
Tinha como resposta o nada. E não ousava olhar para os lados. Sabia que veria John, em qualquer lugar que olhasse. Sabia que veria seus olhos ferozes e insanos, nas paredes, no chão, no teto. Fitando-a com interesse, enquanto ela era engolida.
Pelo Hotel...
Pelo Inferno.
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